Nego Drama

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Redenção!

Velhos piratas, sim, eles me roubaram. Venderam-me para navios mercantes.

Minutos depois, me jogaram no fundo do porão, mas minhas mãos foram

feitas pelas mãos do TODO PODEROSO.

Nós avançamos nessa geração triunfantemente.Tudo o que eu sempre tive foram

canções de liberdade.

Você não irá ajudar-me a cantar essas canções de liberdade?

Porque tudo o que eu sempre tive foram canções de redenção.

Liberte-se da escravidão mental. Ninguém além de você pode libertar sua mente.

Não tenha medo da energia atômica, porque eles não podem parar o tempo.

Por quanto tempo vão matar nossos profetas, enquanto nós permanecemos de

lado, olhando?

Sim, alguns dizem que é apenas uma parte de nós que têm que cumprir o livro.


Canção da Redenção
(Bob Marley)

sábado, 22 de novembro de 2008

Marcha de 20 de novembro de 2008: Homenagem a Oliveira Silveira, nosso poeta maior!

Há mais de 30 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009) sugeriu que se comemorasse em 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra, pois essa data era mais significativa para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio. “Treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão”, assim definia Silveira o Dia da Abolição da escravatura em um de seus poemas, referindo-se à Lei que libertou os escravos, mas sem lhes dar condições de trabalhar e viver com dignidade.


Oliveira Silveira: "Livres",
mas sem condições de viver com dignidade


Em 2003, o Congresso brasileiro aprovou uma Lei Federal que criava e tornava obrigatório nas escolas o estudo sobre a história e a cultura afro. A ideia é ensinar aos alunos de todo o país a história dos povos africanos, a luta dos negros no Brasil e a influência do negro na formação da sociedade nacional.

O dia 20 de novembro é aniversário da morte de Zumbi, grande líder guerreiro do quilombo dos Palmares, assassinado em 1695, há mais de 300 anos. Ele é considerado simbolo da resistência contra a escravidão e, por isso, as entidades e organizações não governamentais dos movimentos negros no Brasil definiram esse dia para manter viva a memória dessa figura e sua importância na luta pela libertação dos escravos.

Quem é Oliveira Silveira

Oliveira Ferreira da Silveira, Serra do Caverá, Distrito Touro passo, município Rosário do Sul, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 1941. A partir de 1959, residência de Porto Alegre. Mantida ligação com cidade e meio rural de origem. Atuação no movimento negro: Grupo Palmares que, por sugestão sua, propôs e assinalou, desde 1971, a data de 20 de novembro. Palmares, mais tarde considerada Dia Nacional da Consciência Negra por iniciativa do MNU em 1978;



grupos Razão Negra e Tição; Movimento Negro Unificado-MNU; participação do grupo Semba, de arte negra, com a filha Naira, desde o início do trabalho em 1979.Dispersos na imprensa gaúcha (além de entrevistas) estudos, reportagens notas como Luis gama; Palmares; jornal de negros O Exemplo ( Porto Alegre, 1892-1930); Sociedade Floresta Aurora, centenária ( fundada por negros em 1871 ou 72 em Porto Alegre); Maçambique de Osório-RS; o negro no Rio Grande do Sul; a obra de Oswaldo de Camargo; a poesia de Seghor, Césaire, e Langston Hughes ( com tradução de poemas). Redação do livreto Mini-História do Negro Brasileiro, Porto Alegre, Grupo Palmares, 1976. Co-autoria do livreto História do Negro Brasileiro- Uma síntese, Porto Alegre, Prefeitura Municipal- SMEC- 1986 ( com Anita L. P. Abad, Helena Vitória S. Machado, Luiz Mário T. da Rosa e Marisa Souza da Silva).

- Mostra Internacional de São Paulo, Bienal Nestlé-SP, Encontros de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros ( I-SP e III-RJ), curso de extensão universitária ( PUC- UFRGS) e promoções do movimento negro. Estudos em andamento: Jongo e outras manifestações artísticas. Prefácios a Atabaques, de Éle Semog e José Carlos Limeira, Rio de janeiro, ed. dos autores, 1983, e a Cristal Noturno, de Abelardo Rodrigues ( em processo de edição).

Racismo, sem açúcar e se, afeto. Valeu Zumbi ! Valeu Oliveira Silveira!





quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Explicando o inexplicável



Uma vez mais o desrespeito da administração municipal, representado pela Secretaria de Projetos Especias, tenta explicar a falta de interesse e respeito pela questão da negritude em nossa cidade. Com um total de 45 pessoas, entre as quais militantes do Movimento Negro de Pelotas, ficaram à espera - em frente ao Teatro Sete de Abril - pelo ônibus que deveria levá-los à Marcha em homenagem a nosso líder maior, ZUMBI dos PALMARES, em Porto Alegre.

A comissão de organização da Semana da Consciência Negra de Pelotas, recebeu a confirmação da secretária na terça-feira, 18/11/08, de que o ônibus estava reservado e pronto para levar as pessoas. Pra surpresa de todos, inclusive da comissão, na útlima hora, fomos comunicados pela secretária Cláudia Ferreira de que o ônibus tinha sido vetado pela prefeitura.

Cláudia Ferreira tenta explicar o inexplicável: o porquê do descaso
da prefeitura de Pelotas para com o Movimento Negro



"Coincidentemente", o mesmo fato ocorreu no ano passado, no dia 20 de novembro de 2007. Ao tentar explicar o inexplicável, a secretária eximiu-se de qualquer responsabilidade e pôs, como de costume, a culpa no Movimento Negro.
São atitudes lamentáveis como essa que nos fortalecem ainda mais, que aumentam a nossa força e mobilização!


RUMO À MARCHA: "RACISMO SEM AÇÚCAR E SEM AFETO" VALEU ZUMBI!!!
AXÉ!!



Dia de Zumbi é feriado em mais de 300 cidades brasileiras

Fonte: Afropress


Enquanto o projeto que declara feriado nacional o 20 de Novembro - dedicado à memória de Zumbi dos Palmares - continua parado no Congresso Nacional, no Brasil, o número de cidades, que adotaram o Dia Nacional da Consciência Negra como feriado municipal, passou de 276 para 303, um aumento de 91% em relação ao ano anterior.

O Brasil tem 5.664 municípios. Em São Paulo, com 645 municípios – e que tem a maior população negra do país em números absolutos com 12,5 milhões de afro-brasileiros -, o número de cidades pulou de 66, em 2007, para 90 este ano – um aumento de 73% em relação ao ano anterior.




O aumento do número de cidades que adotaram o feriado reflete o crescente avanço de consciência da sociedade civil, mais adiantada que o Congresso Nacional na providência de reconhecer a data por meio das suas Câmaras Municipais.

No Congresso, o projeto do senador Paulo Paim, que declara a data feriado nacional – a exemplo do Estatuto da Igualdade –, continua parado e sem previsão de ser levado à plenário para votação. Entre as 27 capitais do país, apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Cuiabá e Maceió instituíram o feriado. No nordeste, com uma população majoritariamente negra ou parda, são apenas seis o número de cidades que celebram a data. Em Salvador, por exemplo, onde 80% da população é negra, o dia é lembrado por entidades e organizações do Movimento Negro; porém, não é feriado.

A Parada Negra deste ano não será na Avenida Paulista. Realizada há dois anos, não ocorrerá este ano na Avenida Paulista, centro de São Paulo, mas em várias cidades do Estado, por iniciativa de ativistas e entidades ligadas à Causa da Igualdade Racial. A manifestação chegou a reunir 20 e 30 mil pessoas, respectivamente, em 2006 e 2007, segundo os organizadores. A convocação para a Avenida Paulista foi desaconselhada por conta das divergências políticas, que, no ano passado, por pouco, não culminaram em confronto aberto envolvendo correntes do Movimento Negro que rejeitam a designação de Parada Negra para a manifestação.

Entre essas correntes estão a Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), ligada ao PT; à União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), ligada ao PC do B; o Congresso Nacional Afro-Brasileiro, ligado ao MR-8; ao PMDB; e o Movimento Negro Unificado (MNU).Essas entidades monopolizaram a manifestação e hostilizaram os manifestantes, identificados com a proposta da Parada Negra.

A coordenação do Movimento Brasil Afirmativo, articulação de ativistas negros e anti-racistas, responsável pela convocação da Parada, decidiu suspender a manifestação na Paulista este ano e conclamar as entidades e ativistas para que organizem manifestações semelhantes em suas cidades e regiões também para estimular a interiorização do movimento e despertar a Consciência Negra em todas as cidades.

No final do dia será feito um balanço e divulgados os números de manifestantes. Mesmo assim, o cálculo da presença de pessoas nas manifestações será difícil, reconhecem os organizadores; primeiro, pela dificuldade natural de comunicação; e, segundo, porque em muitas cidades, as entidades promoverão atividades durante toda a semana, de 13 a 20 de novembro, e em outras durante todo o mês. "Não vamos ficar disputando o metro quadrado na Avenida Paulista, com pessoas que se acham donas do Movimento Negro, mas que na prática, agem como verdadeiros comissários dos partidos a que pertencem", afirmou o ativista João Bosco Coelho, do Movimento Brasil Afirmativo. Bosco fez um apelo às entidades e ativistas negros e anti-racistas para que ajudem a fazer a Parada Negra nas suas próprias cidades. "Convide as entidades co-irmãs. Entre em contato com a Prefeitura da sua cidade e realize sua manifestação. Mostre a realidade e cobre soluções para suas demandas", acrescentou. O tema deste ano, segundo Bosco, será "Com racismo, o Brasil não anda. Por um Brasil afirmativo, sem racismo e com oportunidades iguais para todos".

Barueri, Itapecerica e Cubatão, na região metropolitana de São Paulo - pelo menos em duas cidades -, já confirmaram atividades que integrarão a Parada Negra. Em Barueri, o jornalista Gerson Pedro, da Ação Negra de Integração e Desenvolvimento (ANID), disse que estão programadas várias atividades, entre as quais palestras e oficinas que culminarão com a entrega do Troféu ANID, homenagem tradicional prestada pela entidade a personalidades negras que tiveram destaque em suas áreas de atuação. "Este ano não vamos para a Paulista, porque não aceitamos disputar espaço com quem quer nos dividir", afirmou. Também em Itapecerica da Serra o Conselho Municipal do Negro (CONEGRO) está preparando uma extensa programação para celebrar o Dia Nacional da Consciência, segundo Denis Rodrigues e Kátia Trindade, dirigentes da entidade.Na Baixada Santista, em Cubatão, haverá atividade durante todo o dia 20 na principal avenida da cidade - a Nove de Abril - e, à noite, um ato contra o racismo. Cubatão é a cidade com maioria de população negra mais importante do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Novo Movimento Negro

Por José Raimundo.
(Bacharel em Direito. Pan-africanista, Afrocentrado.
Membro do CNNC/BA- Conselho Naiconal
de Negras e Negros Cristãos/BA)
E-mail: panafricanista@hotmail.com


Há quem afirme que nenhum acontecimento do passado se perde no tempo, mas sim, transforma-se. Pelo visto, a transformação, dando origem a algo novo, é um processo natural da existência das coisas. E por ser um processo natural, a transformação é inevitável. Existindo ou não uma força contrária, ela sempre irá acontecer, mesmo que parcialmente, para o benefício da continuidade da existência.

Hoje, acontece algo de crucial importância para sobrevivência do Movimento Negro, e, por que não dizer, da comunidade negra no Brasil, qual seja, a existência de análises e avaliações aprofundadas das ações e políticas do movimento negro nos últimos tempos e seus possíveis avanços.

O fruto destas análises e avaliações é o advento da necessidade de renovação do movimento negro contemporâneo, seja pela mudança estrutural e ideológica do que concebemos tradicionalmente, no Brasil, como Movimento Negro (o movimento social negro), seja pelo surgimento de um novo segmento do Movimento Negro de caráter libertário, que seguirá seu caminho próprio e natural.

No entanto, a meu entender, só uma mudança estrutural e ideológica do tradicional movimento social negro no Brasil não significa necessariamente um avanço se a finalidade do mesmo ainda for a mesma: a busca incessante por integração racial e aceitação do desumano projeto de relações humanas que está aí posto. Acredito que o avanço essencial compreende, para além da necessária mudança estrutural e ideológica, uma mudança da própria finalidade do Movimento Negro e do rumo por ele a ser tomado.

Apesar do momento histórico “não ser favorável à existência de um Movimento Negro de caráter libertário”, pois as relações raciais entre negros e brancos, e a dominação (política, social e, sobretudo, econômica) deste último se dar no Brasil e no mundo sob o discurso da “democracia”, dos “diretos humanos universais” e da “igualdade entre os povos”, nos permitindo ter a falsa impressão de que “estamos chegando lá”, acredito que é necessário transcendermos a esta realidade ideológica e analisar as relações raciais sob a luz do fato de que nós estamos, na essência da verdade, em todas as partes do mundo, por nossa própria conta em risco e que os brancos não estão afim de viverem junto com os negros numa sociedade igualitária, justa e solidária.

Mais do que em tempos passados, quando tínhamos que reagir contra o inimigo certo e visível, e não tínhamos esta falsa sensação de liberdade, e deste falso tributo ideológico à igualdade, presentes como velcro da dominação branca, precisamos ser a força reacionário e subversiva que vai possibilitar o surgimento de um novo contexto histórico de luta para o nosso povo. E é justamente a percepção desta necessidade de forçar a mudança do contexto histórico que nos envolve que surge, como efeito colateral, a necessidade de mudança da finalidade do movimento negro, adquirindo este uma percepção de luta de caráter libertário, com vistas a autodeterminação do povo preto-africano.

No entanto, é de se perceber que a necessidade do surgimento de um novo Movimento Negro, ou de um novo segmento do movimento negro, de caráter libertário, deve emergir antes da desconfortável realidade de subjugação e dominação que se abate sobre a população negra do que do contexto histórico que nos faz pensar o mundo. Apesar de ser compreensível que o contexto histórico é um fator determinante para a constituição e significação das ações e percepções humanas, não é menos verdade que a realidade vivenciada por um determinado grupo também determina, ou pelo menos deveria determinar, suas ações e percepções. Por exemplo, quando afirmam que o pan-africanismo não tem mais razão para existir porque o contexto histórico que permitiu seu nascimento desapareceu, nada mais estão fazendo os observadores limitados do que condicionar as ações e percepções de luta de um povo ao contexto histórico controlado pelo opressor. Daí, na contramão desta afirmativa errônea, surge uma outra afirmativa, a de que: a existência da ideologia pan-africanista é necessária, pois a realidade do povo preto ainda é de subjugação, de humilhação em suas condições, de desesperanças, de falta de autonomia para realizar o básico por si, sem o real poder de interferir no seu destino (O Poder Negro), de falta de identidade e sentimentos coletivos, etc., do que do fato de o contexto histórico atual permitir ou não, ou ser favorável ou não, a existência do mesmo.

O pan-africanismo encontra razão para existir porque ainda somos um povo escravizado, sendo que, enquanto estivermos subjugados pelos dogmas do racismo, que é a continuação da escravidão numa perspectiva moderna, deve existir a necessidade da ideologia libertária pan-africana. O pan-africanismo é a única saída para o povo negro do mundo encontrar-se consigo mesmo num futuro de paz e liberdade O pan-africanismo é a mais eficaz ferramenta de unificação dos povos africanos do mundo, nos possibilitando pensar num real projeto de libertação negra, para além das fronteiras e identidades nacionais que limitam o nosso pensamento, nos dando um sentido para vivermos enquanto uma nação negra. Seja lá qual for os rumos e as finalidades dos movimentos negros no Brasil, pois sua complexidade e pluralidade é visível, o que mais deve deixar a comunidade negra tranqüila é o fato de existir dentro do movimento negro um segmento transformador, revolucionário e libertário, que soube, e esta sabendo, transcender na análise do contexto histórico controlado e imposto pelo opressor e buscar uma real e verdadeira saída para libertação do povo preto, sem acreditar que somente a vivência conjunta com os brancos é a única solução para os nossos problemas.

Um novo movimento negro não significa, necessariamente, a mudança dos quadros dos militantes e das ideologias políticas integracionistas que norteiam as ações e pensamentos do movimento negro social. Até porque sempre existirão os “Pai Tomas” que estarão atrelados à estrutura de Poder Branca e fazendo o jogo do opressor. Um novo movimento negro significa o surgimento de uma militância negra alternativa, liberta da cosmovisão européia de mundo, que está preocupada em trabalhar para construção de uma nação africana, seja continentalista seja diaspórica, forte e auto-suficiente. O novo movimento negro (libertário) pode e vai co-existir paralelamente ao velho (integracionista). Mas o novo é preciso e já está nascendo. O novo movimento negro é aquele que acredita que a liberdade africana do passado é a mesma que deve ser reconquistada no futuro. Ou façamos por nós mesmos em vistas de nossa liberdade e dignidade, ou deixemos os outros fazerem aquilo que nós deveríamos fazer por nós mesmo e nos dominar eternamente. Nós, do CNNC, acreditamos nessa perspectiva.