O Racismo Escancarado e a Luta por Justiça na Comunidade Escolar de Pelotas
Na última quinta-feira (27), a comunidade escolar do Colégio Estadual Félix da Cunha protagonizou um ato de resistência contra mais um episódio vergonhoso de racismo estrutural em Pelotas. Professores, alunos e funcionários se reuniram em frente ao Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para protestar contra uma acusação leviana e racista que expôs injustamente dois estudantes negros da instituição.
A denúncia, irresponsavelmente compartilhada nas redes sociais, acusava dois irmãos, menores de idade, de furtos ocorridos no entorno da universidade. Sem qualquer prova ou verificação, a acusação foi disseminada com a clara intenção de criminalizar esses jovens exclusivamente por serem negros. No entanto, o diretor da escola, Leo Alves, desmascarou essa farsa ao comprovar que os estudantes estavam, no momento dos supostos crimes, participando de uma atividade pedagógica dentro da escola.
O que esse episódio revela é algo ainda mais grave: a sociedade pelotense, herdeira de uma história de escravidão e racismo institucionalizado, continua tratando corpos negros como suspeitos naturais. A presunção de culpa contra esses adolescentes não foi um erro isolado, mas um sintoma de um sistema que historicamente violenta, marginaliza e extermina a juventude negra. O racismo em Pelotas não é disfarçado — ele é escancarado, brutal e impune.
A resposta da comunidade escolar foi enérgica e necessária. A mobilização não apenas repudiou a injustiça, mas também exigiu responsabilização de quem propagou essa calúnia. O professor de matemática Márcio Afonso e o presidente do Grêmio Estudantil, Pedro Bessa, reforçaram em seus depoimentos a revolta e a urgência de reverter essa lógica perversa de perseguição racial.
Não basta se indignar momentaneamente com casos como esse. É urgente que as instituições de ensino, a imprensa, os órgãos públicos e a sociedade em geral enfrentem essa estrutura racista que transforma a vida de negros em um eterno estado de suspeição. A conivência e o silêncio diante dessas injustiças não são neutros — são cumplicidade.
Pelotas precisa decidir se seguirá perpetuando o seu legado escravocrata ou se dará um passo real em direção à justiça racial. Enquanto jovens negros forem acusados sem provas e tratados como criminosos apenas por existirem, qualquer discurso sobre democracia e igualdade não passa de hipocrisia.
A comunidade do Félix da Cunha já demonstrou sua coragem e dignidade ao reagir. Mas a pergunta que ecoa é: até quando permitiremos que a cor da pele continue sendo sinônimo de culpa nesta cidade?
Por/ Cláudio Rodrigues