Nego Drama

sábado, 30 de abril de 2022

Racismo na UFPel

 

Nota de Repúdio do coletivo negro das ciências sociais 


O Coletivo Negro das Ciências Sociais repudia o episódio de racismo institucional que está acontecendo com o estudante negro e estrangeiro da pós-graduação em ciência política da UFPel. O aluno foi contemplado com uma bolsa de mestrado destinada a pessoas negras dentro do programa de ações afirmativas de pós-graduação da Universidade. Atualmente ele reside no Ceará e precisa começar a receber essa bolsa para custear a sua mudança para Pelotas/RS, programada para Agosto de 2022, quando terão início as suas aulas presenciais aqui na UFPel. Ocorre que em março deste ano ele recebeu uma convocação da Universidade para comparecer em Pelotas, em 05 dias, para realizar a banca de heteroidentificação,  sob pena de perder a bolsa. Sem recursos financeiros, desde então ele tem enviado e-mails a vários setores da UFPel, solicitando que sua banca fosse realizada online ou em alguma outra universidade pública no Ceará, ou, ainda, postergada para Agosto/2022 quando terão início as suas aulas presenciais na Universidade,  deixando nítido que não irá deixar de realizar a banca de heteroidentificação, mas devido a sua atual situação financeira, fica inviável sua locomoção a Pelotas somente para fazer a banca. Entretanto, o aluno recebeu como resposta que não seria possível a realização da banca de forma remota pela "possibilidade de manipulação de imagens por meio de filtros" e que existiria uma "determinação superior" vedando esse procedimento,  sem que a Universidade em suas várias manifestações tenha ao menos indicado o  fundamento jurídico onde constaria essa vedação. Mesmo sendo um estudante de fenótipo incontestavelmente negro, a UFPel não atendeu a nenhum de seus apelos, pelo contrário, representantes da Universidade aconselharam que ele "tomasse um crédito" para comprar a passagem e vir a Pelotas somente para fazer a banca, recomendação essa que evidencia a falta de sensibilidade com a situação do estudante,  com os propósitos  reparatórios das políticas de ações afirmativas e, ao mesmo tempo, reforça a cultura de racismo institucional enraizada na UFPel.

Fonte:

https://www.instagram.com/p/Cc_abwGJJ3q/?igshid=MDJmNzVkMjY=

quarta-feira, 27 de abril de 2022

Será que ainda dá pra esperar ? Quem sabe ter esperança

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Prof Andre Luis Pereira

Será que dá para esperar? Quem sabe ter esperança

A distopia chamada Brasil vive um momento indescritível. Parece estranho, mas o golpe está dado, a norma rompida e o impossível estabelecido. É neste cenário que me pego pensando (mais uma vez) na minha, na nossa condição de pessoas Pretas. Assistimos e assistiremos “Medida Provisória” que de distopia não tem nada, aquele desterro ali ilustrado posto aqui, a nossa repatriação para a África acontece todos os dias. A “nossa” África está nas periferias das grandes cidades, nas comunidades remanescentes de quilombos, no sistema prisional. Àquela África do exótico, da desumanização, aquela metáfora apresentada por Lázaro está aqui. Hoje aqui na Pampaláxia me chamou a atenção a notícia, de que as forças de repressão, Guarda Municipal e Brigada Militar estão no centro da cidade, especialmente no calçadão, para coibir a venda de produtos considerados piratas. Me ocorre que a Prefeitura Municipal de Pelotas ratifica sua posição de defesa dos interesses privados, afinal o “reizinho” da Princesa de Cara Suja, a saber, o tal Renzo, devia estar incomodado com a presença de tantos senegaleses, haitianos e outros grupos vendendo produtos na rua, afinal o projeto econômico da cidade (existe?) não contempla a geração de renda e o estímulo a um processo econômico de base coletivista. Então há que se “higienizar” o centro, para que não se afete o olhar dos senhores do engenho contemporâneo. A outra dimensão deste processo, que me chama a atenção é o silencio ensurdecedor dos legisladores antirracistas da cidade. Onde estão os projetos para a geração de renda aos “irmãos” africanos e haitianos, além é claro, para o povo Preto da periferia da cidade que se orgulha da sua história? Mas esse texto tem outro intuito. Penso no que será necessário para que despertemos sobre a necessidade de ações mais contundentes na luta antirracista? Um estrangeiro (argentino) vem ao país para acompanhar um jogo de futebol, demonstra seu racismo, aliás, histórico naquele país, como aqui. É identificado, detido e temporariamente retido pelas forças de segurança, paga fiança, arbitrada pela redução do crime que se produz considerando o dispositivo legal de responsabilização, definido como injúria racial, que eu classifico como esvaziamento da evidência do crime de racismo, mas no direito brasileiro tudo pode. No mesmo dia, um magistrado julga uma ação que quer censurar um post de uma pessoa em rede social com a frase “Fogo nos racistas” (salve Djonga), o nobre operador do direito impetra o pagamento de multa e obriga, ops.... determina o apagamento do post. Retorno ao filme “Medida Provisória”, as pessoas saem das salas de cinema mexidas, incomodadas e eu me pergunto, o que fazemos com esse incomodo? Com essa náusea? Ouço, leio, sobre esperança, consciência, mudança, mas e aí? O que muda de fato? Será que enquanto permanecermos enquadrados, comportados, “civilizados”, algo mudará? Não advogo a violência, jamais. Mas a verdade é que hoje, no cenário da inexistência do impossível, o meu corpo preto é todo ele a bola central do alvo. Aqueles/as que detém o poder contam com a nossa ausência de reação ou que a nossa reação permaneça no campo discursivo. Quais as ações antirracistas estão sendo de fato executadas, implementadas, acionadas? Tanto no âmbito municipal, estadual e mesmo federal? Antirracismo de ocasião. Discurso e postura de opinião. E mais um pretinho foi morto pelo camburão. Nos diziam “vocês não têm estudo, não leem, são bárbaros”. Fomos à universidade, nos formamos, viramos doutores e doutoras e mudamos. Individualmente mudamos, no plano do mérito pessoal mudamos. Mas a massa segue lá, aqui, perseguida, agredida, exterminada. Quando apontamos, criticamos, cobramos, agora somos revanchistas, recalcados, extremistas. Então eu lhes pergunto: o que fazer? Ou será que esperamos mais um de nós, sofrer, chorar, morrer? Eu tenho sofrido, chorado e morrido, um pouquinho a cada dia, com o racismo que vocês disfarçam, mas que nos seus olhos brilha. 

André Luis Pereira – 27 de abril 2022.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Notas sobre um homem negro que corre na rua – como o olhar, a desconfiança e a repulsa machucam.

 Notas sobre um homem negro que corre na rua – como o olhar, a desconfiança e a repulsa machucam. 

André Luis Pereira 


Caminho e corro na rua. Desde sempre sou um caminhante. Já escrevi sobre isso aqui há alguns anos. Andar na rua deveria ser algo libertário, romper com as amarras do tempo, do espaço físico de um automóvel ou de qualquer meio de transporte, encerrado em si mesmo. Após dois anos de pandemia tenho tentado retomar o andar na rua, correr de vez em quando, ainda que a trotes. Em Pelotas não existem espaços adequados à corrida de rua. Temos alguns trechos de avenidas ou mesmo a rua, com todos os riscos dela advindos. Tento correr por algumas avenidas da cidade que possuem espaços destinados a transeuntes. Mas me sinto incomodado, pois seja em que horário do dia ou da noite for há sempre a atitude de desconfiança das pessoas. Dia desses, sociólogo que sou ou me pretendo ser, passei a contar o número de pessoas que, quando da minha passagem, tocam seu corpo, seus bolsos, seguram mais firme seus celulares, cochicham com companheiros e companheiras, numa espécie de alerta, de aviso de cuidado. Para uma pessoa negra a suspeição é um amálgama, incrustado na pele, inscrito na tez, tatuado em nossa fronte. Ontem, enquanto corria, me peguei pensando sobre isso e segui analisando a atitude das pessoas. Então passei a me questionar: o que leva a essa atitude preconceituosa? Será a minha barba “hirsuta e branca”? Serão as mais de vinte tatuagens? Será o que me resta de cabelo, desgrenhado pela calvície que se aproxima? Quem sabe os lábios grossos, a cara fechada e o passo batido? Será a roupa, ainda que eu me preocupe em vestir roupas que se aproximem dos praticantes de esporte de rua? Será o suporte de compressão para a panturrilha, que tem doído no pós-treino? Na verdade, creio que seja o somatório desse conjunto de características, aliado a essa verve racista, que opera nas ruas, no cotidiano das pessoas. Ser um homem negro, na dita meia idade – logo aí, se tudo correr bem, chego aos cinquenta anos – que possui um emprego e renda estáveis, que possui uma razoável formação acadêmica, que aprecia livros (bons de preferência), boas bebidas e comidas de qualidade, não me blinda dos olhares, do aperto na bolsa ou no bolso, das palavras e frases entre os dentes. Ser um homem negro, no sul do Brasil, no sul do sul de um dos países mais racistas do mundo, não permite ter esperanças. Por vezes comparo a vida, a atividade na rua, o andar de bicicleta ou simplesmente caminhar, por cá e por Porto Alegre, onde morei muitos anos. E lá, talvez eu seja tão pequeno e comum que me sinta só mais um. Ainda que saibamos que “Ancoradouro Triste”, para parafrasear um querido amigo, também pode ser tão racista, quanto qualquer cidade da “Europa” brasileira, lá a sensação de multidão mascara com mais efeito a percepção do racismo. Mas aqui, na Pampaláxia, os olhares não são mais velados, as pessoas perderam a vergonha e não têm mais nenhum constrangimento em agir e se expor de forma discriminatória. Escrevo tudo isso para dizer que se eu, sujeito negro, ciente da sua negritude e, portanto, com um repertório desenvolvido para lidar com tais situações sofro, choro, me deprimo, me irrito. Fico imaginando o que passa a juventude negra, principal vítima do racismo brasileiro. Como afirmar uma identidade, se o espelho sempre te avisa que tu és o suspeito? Como demonstrar uma identidade positiva, quando o segurança (também negro) no mercado, na loja de conveniências, na agência bancária, faz questão de demonstrar que as pessoas negras estão sob o seu crivo? A isso só é possível responder com resistência, militância, muito, mas muito estudo e com o desejo de construção de uma sociedade antirracista. Em dias tão nebulosos, como os que vivemos hoje, à população negra só cabe a condição de resistir. E ainda que a maioria de nós ainda não tenha consciência de sua condição de pessoas racializadas, nossa responsabilidade, desde sempre é, também, tomar a vanguarda deste processo de construção de uma consciência coletiva, autônoma, justa, engajada e disposta a construir uma sociedade, de fato, antirracista. Na qual eu, minhas filhas, suas filhas e filhos, possam simplesmente andar na rua, sem ter que, a cada dois ou três minutos, responder mentalmente “Eu não sou ladrão, não se preocupe, não vou lhe roubar”. Se por ventura você for uma pessoa branca e leu esse texto até aqui, obrigado, provavelmente você faz parte da solução, sigamos em luta e em frente. 

André Luis Pereira

Abril/2022

A importância da educação na luta antirracista

Hoje pela manhã tivemos a presença de membros da Comissão de Reestruturação do Conselho da Comunidade Negra para tratar da pauta da educação e sua importância na luta antirracista ✊🏾

 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

 No Dia da Mulher Moçambicana, artistas negras locais estão em destaque

Por Carlos Cogoy

Talentosas e criativas, elas foram convidadas para o Festival Axitiana – Cultura no Feminismo, que transcorre em Moçambique. Alusivo ao Dia da Mulher Moçambicana, que é celebrado nesta quinta, o evento conta com a participação de mulheres negras pelotenses. O grupo enviou vídeos para a programação 2º Fórum da Mulher Artista, que tem como lema “Mulher ao Desafio do Milênio”. Estão participando Eva Santos – com filha e neta -, do Las3tramas, Luciana Custódio – representa a Feira de Mulheres Empreendedoras Negras e Indígenas (FEMENI) -, cantoras Josi Maciel e Karen Alves, escritora Marielda Barcellos Medeiros, e a coreógrafa Pry Couto, que integra a coordenação do ODARA – Centro de Ação Social, Cultural e Educacional

VÍDEOS – As pelotenses mencionam: “Todas criaram e enviaram seus vídeos, com falas relacionadas à situação da mulher, e também apresentando seus trabalhos. Neste 7 de abril, é comemorado o dia da mulher moçambicana. Assim, estamos celebrando o dia, fazendo a conexão Brasil com Moçambique. Com os vídeos, ressaltamos reflexões necessárias e urgentes, acerca de um mundo no qual as mulheres são violentadas de todas as formas possíveis, sendo mais grave a perda de suas vidas. Não podemos deixar de observar que nosso país está na lista dos países que mais matam mulheres. Houve avanços com as diversas leis de proteção às mulheres mas, na prática cotidiana, não verificamos mudanças nas ações e posturas da sociedade, pois ainda ouvimos frases como ‘Se aconteceu, a culpa também é dela’, entre outras tantas”.

FESTIVAL Axitiana tem debates, música, moda e gastronomia. Organizadores acrescentam: “O Festival Axitiana é um fórum que reflete sobre o contexto no qual a desigualdade de gênero, tem atingido proporções elevadas, refletindo-se em diversas áreas da cultura. E as mulheres têm manifestado por meio da arte, as condições em que estão sujeitas no seio familiar e social. Então, assim foi pensado o Axitiana, ou seja, como um fórum de empoderamento feminino por meio da arte e cultura, bem como enfocando um contexto histórico no qual as mulheres estão cansadas de não terem oportunidades. Da mesma forma, a cultura é um dos principais motores de promoção do desenvolvimento social e intelectual. Porém, encontramos graves carências para a visibilidade ao trabalho das mulheres artistas no país, sendo este um coletivo fundamental para a promoção de valores e identidade local. Além disso, atualmente é difícil a comercialização, o que gera dificuldades para as artistas moçambicanas. Por isso, o Festival Axitiana tem como principal desafio, o empoderamento da mulher na arte, considerando os desafios a curto, médio e longo prazo. Nosso objetivo é que trazer a voz da mulher artista”. Saiba mais, acessando Festival Axitiana nas redes sociais.