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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Será que ainda dá pra esperar ? Quem sabe ter esperança

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Prof Andre Luis Pereira

Será que dá para esperar? Quem sabe ter esperança

A distopia chamada Brasil vive um momento indescritível. Parece estranho, mas o golpe está dado, a norma rompida e o impossível estabelecido. É neste cenário que me pego pensando (mais uma vez) na minha, na nossa condição de pessoas Pretas. Assistimos e assistiremos “Medida Provisória” que de distopia não tem nada, aquele desterro ali ilustrado posto aqui, a nossa repatriação para a África acontece todos os dias. A “nossa” África está nas periferias das grandes cidades, nas comunidades remanescentes de quilombos, no sistema prisional. Àquela África do exótico, da desumanização, aquela metáfora apresentada por Lázaro está aqui. Hoje aqui na Pampaláxia me chamou a atenção a notícia, de que as forças de repressão, Guarda Municipal e Brigada Militar estão no centro da cidade, especialmente no calçadão, para coibir a venda de produtos considerados piratas. Me ocorre que a Prefeitura Municipal de Pelotas ratifica sua posição de defesa dos interesses privados, afinal o “reizinho” da Princesa de Cara Suja, a saber, o tal Renzo, devia estar incomodado com a presença de tantos senegaleses, haitianos e outros grupos vendendo produtos na rua, afinal o projeto econômico da cidade (existe?) não contempla a geração de renda e o estímulo a um processo econômico de base coletivista. Então há que se “higienizar” o centro, para que não se afete o olhar dos senhores do engenho contemporâneo. A outra dimensão deste processo, que me chama a atenção é o silencio ensurdecedor dos legisladores antirracistas da cidade. Onde estão os projetos para a geração de renda aos “irmãos” africanos e haitianos, além é claro, para o povo Preto da periferia da cidade que se orgulha da sua história? Mas esse texto tem outro intuito. Penso no que será necessário para que despertemos sobre a necessidade de ações mais contundentes na luta antirracista? Um estrangeiro (argentino) vem ao país para acompanhar um jogo de futebol, demonstra seu racismo, aliás, histórico naquele país, como aqui. É identificado, detido e temporariamente retido pelas forças de segurança, paga fiança, arbitrada pela redução do crime que se produz considerando o dispositivo legal de responsabilização, definido como injúria racial, que eu classifico como esvaziamento da evidência do crime de racismo, mas no direito brasileiro tudo pode. No mesmo dia, um magistrado julga uma ação que quer censurar um post de uma pessoa em rede social com a frase “Fogo nos racistas” (salve Djonga), o nobre operador do direito impetra o pagamento de multa e obriga, ops.... determina o apagamento do post. Retorno ao filme “Medida Provisória”, as pessoas saem das salas de cinema mexidas, incomodadas e eu me pergunto, o que fazemos com esse incomodo? Com essa náusea? Ouço, leio, sobre esperança, consciência, mudança, mas e aí? O que muda de fato? Será que enquanto permanecermos enquadrados, comportados, “civilizados”, algo mudará? Não advogo a violência, jamais. Mas a verdade é que hoje, no cenário da inexistência do impossível, o meu corpo preto é todo ele a bola central do alvo. Aqueles/as que detém o poder contam com a nossa ausência de reação ou que a nossa reação permaneça no campo discursivo. Quais as ações antirracistas estão sendo de fato executadas, implementadas, acionadas? Tanto no âmbito municipal, estadual e mesmo federal? Antirracismo de ocasião. Discurso e postura de opinião. E mais um pretinho foi morto pelo camburão. Nos diziam “vocês não têm estudo, não leem, são bárbaros”. Fomos à universidade, nos formamos, viramos doutores e doutoras e mudamos. Individualmente mudamos, no plano do mérito pessoal mudamos. Mas a massa segue lá, aqui, perseguida, agredida, exterminada. Quando apontamos, criticamos, cobramos, agora somos revanchistas, recalcados, extremistas. Então eu lhes pergunto: o que fazer? Ou será que esperamos mais um de nós, sofrer, chorar, morrer? Eu tenho sofrido, chorado e morrido, um pouquinho a cada dia, com o racismo que vocês disfarçam, mas que nos seus olhos brilha. 

André Luis Pereira – 27 de abril 2022.

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