Nego Drama

domingo, 28 de dezembro de 2025

Morre Adilson Rasta, liderança histórica do Movimento Negro e referência do Rastasul em Pelotas

 O Movimento Negro de Pelotas e da região Sul do Rio Grande do Sul perde uma de suas principais referências políticas, culturais e organizativas. Morreu Adilson Rasta, liderança histórica do Movimento Rastasul, militante antirracista e articulador incansável das pautas da população negra, especialmente nas periferias da cidade.



Adilson Rasta construiu sua trajetória longe dos holofotes institucionais, mas no centro das lutas reais. Foi forjado na rua, no movimento social, nos encontros comunitários, nos debates duros e necessários que sempre caracterizaram o Movimento Negro combativo. Sua atuação nunca foi ornamental. Adilson não militava para ser aceito pelo sistema, mas para confrontá-lo. E isso fez dele uma liderança respeitada, coerente e profundamente enraizada na base.

À frente do Movimento Rastasul, compreendia que a cultura negra é um campo estratégico de disputa política. A estética rastafári, o cabelo, a música, a espiritualidade, a oralidade e a memória africana eram, em sua visão, ferramentas de afirmação identitária e resistência ao projeto histórico de embranquecimento e apagamento. Para Adilson, ser negro consciente era um ato político diário, sobretudo em uma cidade marcada por profundas desigualdades raciais e sociais como Pelotas.



Suas falas eram diretas, muitas vezes duras, mas sempre honestas. Ele não suavizava o racismo institucional, não romantizava a exclusão e não aceitava políticas públicas simbólicas. Cobrava ações concretas, orçamento, presença do Estado onde a população negra sempre foi abandonada. Denunciava o genocídio da juventude negra, a violência policial, o encarceramento em massa e a falta de oportunidades estruturais para quem nasce na periferia.

Adilson Rasta também teve papel fundamental na formação política de jovens negros e negras. Foi referência para uma geração que buscava se reconhecer, se organizar e se posicionar diante de um sistema que insiste em negar humanidade aos corpos negros. Seu compromisso não era apenas com o discurso, mas com a prática: orientar, ouvir, mediar conflitos, fortalecer coletivos e incentivar a autonomia política.



Sua militância dialogava com outras dimensões da luta: a religiosidade de matriz africana, frequentemente atacada pelo racismo religioso; a valorização das expressões culturais negras; a defesa da dignidade da classe trabalhadora negra; e a construção de uma consciência crítica sobre o papel do Estado e das elites na manutenção das desigualdades. Adilson compreendia que o racismo não é um desvio do sistema, mas parte estruturante dele.


A morte de Adilson Rasta abre uma lacuna difícil de preencher. No entanto, como ensina a tradição africana e a própria história do Movimento Negro, nossas lideranças não desaparecem: tornam-se ancestrais. Sua memória agora é compromisso, sua trajetória é método, e sua postura política é referência.

Cabe ao Movimento Negro de Pelotas, aos coletivos, às organizações e às novas lideranças manter viva a luta que Adilson ajudou a construir. Honrar seu nome não é apenas lembrá-lo, mas seguir tensionando o poder, denunciando injustiças e afirmando, todos os dias, que vidas negras importam.

Adilson Rasta permanece como símbolo de resistência, coerência e coragem. Sua história segue inscrita na luta do povo negro, como semente que germina mesmo depois da queda da árvore.