Três décadas depois, completadas na próxima quarta, a estrela rastafári segue brilhando alto, tanto no céu, ao lado de Jah, como na Terra
No dia 11 de maio de 1981, o mundo chorou a perda do jamaicano Bob Marley, com apenas 36 anos, em decorrência de um câncer generalizado. Três décadas depois, completadas na próxima quarta, a estrela rastafári segue brilhando alto, tanto no céu, ao lado de Jah, como na Terra.
Afinal, o Rei do Reggae nem de longe perdeu o seu trono, continuando a ser o maior artista pop musical nascido fora do eixo Estados Unidos-Europa. Sua vibração positiva move antigos e novos fãs, como destaca Sérgio Nunes, 40 anos, vocalista do grupo de reggae Adão Negro. “Minha filha Alice, 9 anos, tem dezenas de músicas dele no MP3. A música e as ideias de Bob não saem de moda”, diz.
Tributos Homenagens à memória do ídolo não param de surgir. O álbum Bob Marley and The Waylers, Live Forever (Universal), que registra o último show, é uma delas, assim como o documentário Marley, que estreia até o fim do ano. Dirigido por Kevin Macdonald, de O Último Rei da Escócia, o filme pretende ser uma obra definitiva, trazendo depoimentos de amigos e familiares, como o filho Ziggy, um dos 12 herdeiros.
Também há rumores de que um filme biográfico sobre o rastaman será rodado em breve. Apesar de que a cineasta britânica Jenny Ash ainda não conseguiu os direitos das músicas de Bob, que pertencem à ex-mulher Rita. Esta também quer produzir um filme, baseado em sua autobiografia No Woman No Cry: Minha vida com Bob Marley.
Conexão Brasil Saído da favela de Trenchtown para se transformar no maior divulgador do reggae no mundo - sua coletânea Legend, de 1984, é o disco de reggae mais vendido do planeta – Bob tem história de sobra para alimentar um bom filme. Nesse enredo fantástico, que inclui atentados, romances conturbados e a morte por um câncer cujo tratamento foi negligenciado por conta do rastafarianismo, há um ingrediente lembrado por todo fã brasileiro: a visita ao Rio em 1980.
Na Cidade Maravilhosa, Bob jogou uma partida de futebol ao lado de Chico Buarque, Toquinho, Moraes Moreira e o craque tricampeão Paulo César. Mas, se infelizmente não passou pela Bahia, vale lembrar que dois artistas da terra já estavam antenados ao jamaicano. Em 1971, no exílio em Londres, Caetano Veloso foi o primeiro brasileiro a citar o reggae em Nine out of Ten, do disco Transa.
Oito anos depois, Gilberto Gil lançou Não Chore Mais, versão para No Woman No Cry, de Bob, que virou um hino da anistia no Brasil. “Bob foi um dos grandes intérpretes dessa consciência de exclusão, de desigualdade”, lembra Gil, que em 2002 gravou Kaya N'Gan Daya, com músicas de Bob. “Foi o último artista a quem dediquei atenção profunda. Hoje ainda é das coisas que mais gosto de ouvir”.
Raiz baiana Parceiro também de Jimmy Cliff, outro reggae man jamaicano com quem fez um show histórico na Fonte Nova, em 1980, Gil é mesmo tido como um irmão espiritual de Bob, numa relação que virou tema de Carnaval na década de 80.
“Tem, tem, tem dois neguinhos/ Um morava na Jamaica, outro mora no Brasil/ Um se chamava Bob Marley e o outro é Gilberto Gil/ Mas Bob Marley foi se embora e se foi para o além /Mas deixou Gilberto Gil, que está indo muito bem”, dizia a canção de Celso Bahia.
Presidente do bloco afro Muzenza, criado como um tributo a Bob, Jorge Santos, 49, destaca a importância do artista para os baianos na década de 70. “Os jovens da periferia se identificaram com ele. A realidade na Jamaica era parecida com a nossa”. Ele recorda como, na Liberdade, a Rua Alvarenga Peixoto foi apelidada de Avenida Kingston, em homenagem à cidade do ídolo.
O produtor Raimundo Santos ‘Bujão’, 53, ressalta que a postura política de Bob foi logo absorvida pelos movimentos negros locais. “O reggae surgiu aqui com essa concepção militante, diferente de como foi no Maranhão”, compara.
Outro fanático por Bob, o cantor Lazzo Matumbi, 54, concorda que sua música era a sua melhor arma: “Porque, quando ela te atinge, você não sente dor... ”, diz, citando a letra de Trenchtown Rock. “Depois de 30 anos, a gente ainda ouve Bob Marley como se fosse a primeira vez”.
fonte: Missão Quilombo
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