Nego Drama

domingo, 18 de dezembro de 2011



Havana (Prensa Latina) Há milhares de civilizações e grupos humanos que habitam o continente africano, os quais em sua quase totalidade foram vítimas da exploração escravista ou do sistema colonial subseqüente, impostos a partir do século XV pelas potências dominantes européias.

  Na Conferência de Berlim (1884-1885), onde as metrópoles do Velho Continente repartiram a África, foram traçadas as fronteiras dos países de acordo com as ambições coloniais deixando separado um mesmo grupo étnico, repartido entre duas ou mais nações.

Essa dura realidade é vivida pelos masai, um povo originário do Nilo. Uma parte está assentada no sul do Quênia e a outra no norte da Tanzânia, dois estados vizinhos da África Oriental, que obtiveram sua independência do Reino Unido nos anos 60 do século XX.


Apesar da separação pelas fronteiras coloniais que os governos depois da libertação respeitaram, os masai -que habitam duas nações- conservam suas tradições, levam uma vida nômade, possuem língua própria, forma de vestir, cerimônias, hábitos, costumes e valores culturais muito particulares.

Em suas origens eram caçadores e coletores mas devieram pecuaristas. Por suas crenças religiosas não cultivam a terra, e nunca aprenderam a faze-lo; compram verduras em mercados próximos, têm galhinhas mas não as comem, só vendem os ovos. Das vacas tomam o sangue e o leite que misturam numa xícara, além da carne.

Ao norte de Tanzânia, em pleno vale do Rift, entre os lagos Natrón e Nanyara habita o verdadeiro deus dos masai; trata-se de Ol Doinyo Lengai, um vulcão em atividade permanente que produz um estranho tipo de lava.

Essa lava está composta em sua maior parte por sódios-carbonato, dos quais os masai extraem o sal, uma matéria prima indispensável para a existência. Este acidente geográfico está a 2.800 metros de altura e sua cratera é de 300 metros de diâmetro e 50 de profundidade.

O lago salgado Natrón está na Tanzânia, ainda que bem próximo da fronteira com o Quênia, o que permite aos masai que vivem em ambos países verem-se favorecidos pelo sal.

Para os masai o deus Enkai habita a montanha. Na origem do mundo, fez a partilha dos dons terrestres a seus filhos: ao povo ndorobo entregou-lhe a caça e o mel, a outros sementes e aos masai correspondeu-lhes o gado.

Mas um ndorobo zeloso reclamou o gado, e ao negar-lho cortou a corda que unia o Céu com a Terra; da ira de Enkai surgiu o sofrimento dos homens. Por sua vez, o sal é um dom que essa divinidade entregou aos seus filhos prediletos: os masai.

No entanto, segundo a lenda, esse deus único está dividido em duas pessoas, Enkai-Norok, deus negro e generoso da chuva e Enkai-Nonyocik, deus vermelho e malicioso da seca. É assim tanto no Quênia como na Tanzânia.

Numa região onde são frequentes as secas catastróficas, esse fenômeno meteorológico está vinculado à existência mesma da etnia e é lógico que essa tragédia lhe atribua ao deus Enkai-Norok.

Os BAMBARA

Vivem os bambara em dois países que foram colônias da França - o Mali e a Mauritânia - até 1960, quando atingiram a independência depois de mais de um século de presença gala.

No Mali, os bambara são o grupo étnico dominante e a maioria de sua população. Ao outro lado da fronteira, na Mauritânia, vivem nas proximidades do povo chamado Timbreda.

Essa divisão deve-lhe ao colonialismo. Ambos falam bamana, que é uma das línguas mandinga e está ligada com a bantu, a qual inclui o swahili e o zulu.

A maioria dos bambara são agricultores, à diferença dos masai, só pecuaristas. Entre seus cultivos estão milho, iúca, fumo e hortaliças, e também criam gado, cavalos, cabras, ovelhas e galhinhas, dedicando-se também à caça para aproveitar carnes e peles. Nesta etnia, homens e mulheres compartilham as tarefas agrícolas.

Cada povo bambara compõe-se de muitas unidades familiares diferentes, em geral todas de uma mesma linhagem ou família extensa. Cada lar ou gwa é responsável pelo provimento de todos seus membros, bem como pela ajuda com as tarefas agrícolas.

As casas dos bambara caracterizam-se por serem maiores que as moradias de outros grupos étnicos das nações da África Ocidental. Algumas gwa têm 60 ou mais pessoas e os membros da cada uma trabalham juntos todos os dias exceto as segundas-feiras, dedicados ao comércio.

O matrimônio é caro, considerado como um tipo de investimento. Seu propósito principal deriva em ter filhos que proporcionem à família a força trabalhista e assegurem a continuidade da linhagem familiar.

A maioria das mulheres bambara têm em média oito filhos. Todos os adultos estão casados; inclusive viúvas de idade avançada, em seus 70 ou 80 anos, têm pretendentes porque os bambara acham que uma mulher aumenta o status do homem.

Quanto à religião, ainda que a maioria afirme que são muçulmanos, muitas pessoas seguem suas crenças tradicionais de culto aos antepassados. Segundo os bambara, os espíritos ancestrais podem assumir a forma de animais ou inclusive de verduras.

Nas cerimônias extraordinárias, os espíritos são adorados e fazem-se oferendas de farinha e água. O membro de linhagem mais antigo atua como o "mediador" entre os vivos e os mortos.

Apesar dos cinco séculos combinados de escravatura e exploração colonial, as metrópoles não puderam acabar com os hábitos, costumes e cultura dos grupos autóctones. Esses valores atuaram como proteções contra a barbárie estrangeira.

*Jornalista cubano especializado em política internacional, tem sido co-responsável em vários países africanos e é colaborador da Prensa Latina.

Fonte: Prensa Latina

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