Nego Drama

domingo, 1 de maio de 2022

Uma breve reflexão pelo Dia do Trabalhador

Uma breve reflexão pelo Dia do Trabalho

Prof Andre Luis Pereira


P/ Andre Luis Pereira 

Mais um 1° de Maio, mais um Dia do Trabalho. Neste, assim como nos últimos anos, não há muito o que comemorar. As trabalhadoras e os trabalhadores resistem, Brasil e mundo afora. E só resistem porque o trabalho ainda é o liame que pode permitir a produção de uma consciência coletiva. Ainda que o capitalismo, enquanto modo de produção e mecanismo de organização social, busque incessantemente suplantar o trabalho como força motriz de confronto às desigualdades, fato é que o trabalho resiste, porque trabalhadoras e trabalhadores resistem. No caso brasileiro uma peculiaridade deve ser pontuada: o fenômeno trabalho no Brasil origina-se da pior forma de exploração do homem pelo homem, a saber o trabalho escravo. Essa condição produziu e produz desdobramentos até hoje. A desvalorização, a má remuneração, o excessivo número de horas trabalhadas, a desregulamentação, produzida inclusive sob o argumento de que flexibilizar leis e relações trabalhistas geraria mais empregos. Pois bem, seis anos após a reforma 12 milhões estão desempregados, se somarmos a este número trabalhadores/as informais, subempregados e desalentados/as, os dados explicarão por que há no Brasil hoje, aproximadamente, 117 milhões de pessoas em risco de insegurança alimentar. Mais de 20 milhões não sabem o que comerão amanhã. Quando os dados são analisados sob o prisma de gênero e raça a situação é trágica. Mulheres negras estão no grupo mais mal remunerado, de mais baixo reconhecimento social e profissional. Aliás, é o povo negro aquele que mais sente os efeitos da crise imposta pelo capital ao mundo do trabalho. Somos os primeiros a nos confrontar com o desemprego, os últimos a ter condições de retorno, quando isso é possível. Historicamente o trabalho por aqui é desvalorizado tendo por base que ele sequer era remunerado, até o final do século XIX, isso diz muito sobre como se interpreta o trabalho no país hoje. Reitero então, não há o que comemorar. Estamos sob ataque, mas a exigência material tornou-se tão aguda, que hoje antes de lutar pela garantia de direitos, trabalhadoras e trabalhadores têm a legitima preocupação com o já famoso “pão de cada dia”. E é difícil mobilizar, para a coletividade, quando o que está em jogo é a sobrevivência. No entanto, esse 1° de maio nos traz e deixa uma certeza: ou buscamos uma unidade popular, em defesa do trabalho como recurso econômico, como base ideológica e como princípio de organização social, e para isso, destituir os que ocupam o poder político, atualmente, é fundamental. Ou estamos fadados à uberização, ao hiper-individualismo, à ideologia esvaziada do trabalhador precarizado que se supõe o “patrão de si”. No entanto, tenho certeza de que não é a conciliação de classes ou a tentativa dela que vai superará esse cenário. Temos, infelizmente, de tomar “duas doses de benzetacil” a seco em outubro e novembro, mas não podemos renunciar à crítica. Sentar-se com algozes, almoçar com detratores e abraçar traidores não nos faz melhor, ao contrário, demonstra o tamanho da montanha que há a vencer. E este consenso que se busca hoje precisa, a todo momento, ser confrontado com e pela consciência crítica. Que as pessoas precisam comer melhor, voltar a ter poder consumo e vislumbrar alternativas de vida, isso tudo é verdade. Porém, esse projeto de inclusão pelo consumo já foi experimentado e sabemos que ele produz uma cidadania de baixíssima qualidade, se assim não fosse os muitos golpes sofridos nos últimos sete anos não seriam tão efetivos, se ao menos uma consciência de classe tivesse sido desenvolvida. Então, nesse Dia do Trabalho, da Trabalhadora e do Trabalhador eu peço que tenhamos a capacidade de perceber com nitidez a gravidade do quadro que vivemos e do abismo sem fundo que se aproxima. Só assim poderemos, quem sabe, em 2023 revisitar esse textículo, para saber o quanto erramos ou vice-versa. Felicidades, para quem é de comemorar.

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