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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia de Zumbi é feriado em mais de 300 cidades brasileiras

Fonte: Afropress


Enquanto o projeto que declara feriado nacional o 20 de Novembro - dedicado à memória de Zumbi dos Palmares - continua parado no Congresso Nacional, no Brasil, o número de cidades, que adotaram o Dia Nacional da Consciência Negra como feriado municipal, passou de 276 para 303, um aumento de 91% em relação ao ano anterior.

O Brasil tem 5.664 municípios. Em São Paulo, com 645 municípios – e que tem a maior população negra do país em números absolutos com 12,5 milhões de afro-brasileiros -, o número de cidades pulou de 66, em 2007, para 90 este ano – um aumento de 73% em relação ao ano anterior.




O aumento do número de cidades que adotaram o feriado reflete o crescente avanço de consciência da sociedade civil, mais adiantada que o Congresso Nacional na providência de reconhecer a data por meio das suas Câmaras Municipais.

No Congresso, o projeto do senador Paulo Paim, que declara a data feriado nacional – a exemplo do Estatuto da Igualdade –, continua parado e sem previsão de ser levado à plenário para votação. Entre as 27 capitais do país, apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Cuiabá e Maceió instituíram o feriado. No nordeste, com uma população majoritariamente negra ou parda, são apenas seis o número de cidades que celebram a data. Em Salvador, por exemplo, onde 80% da população é negra, o dia é lembrado por entidades e organizações do Movimento Negro; porém, não é feriado.

A Parada Negra deste ano não será na Avenida Paulista. Realizada há dois anos, não ocorrerá este ano na Avenida Paulista, centro de São Paulo, mas em várias cidades do Estado, por iniciativa de ativistas e entidades ligadas à Causa da Igualdade Racial. A manifestação chegou a reunir 20 e 30 mil pessoas, respectivamente, em 2006 e 2007, segundo os organizadores. A convocação para a Avenida Paulista foi desaconselhada por conta das divergências políticas, que, no ano passado, por pouco, não culminaram em confronto aberto envolvendo correntes do Movimento Negro que rejeitam a designação de Parada Negra para a manifestação.

Entre essas correntes estão a Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), ligada ao PT; à União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), ligada ao PC do B; o Congresso Nacional Afro-Brasileiro, ligado ao MR-8; ao PMDB; e o Movimento Negro Unificado (MNU).Essas entidades monopolizaram a manifestação e hostilizaram os manifestantes, identificados com a proposta da Parada Negra.

A coordenação do Movimento Brasil Afirmativo, articulação de ativistas negros e anti-racistas, responsável pela convocação da Parada, decidiu suspender a manifestação na Paulista este ano e conclamar as entidades e ativistas para que organizem manifestações semelhantes em suas cidades e regiões também para estimular a interiorização do movimento e despertar a Consciência Negra em todas as cidades.

No final do dia será feito um balanço e divulgados os números de manifestantes. Mesmo assim, o cálculo da presença de pessoas nas manifestações será difícil, reconhecem os organizadores; primeiro, pela dificuldade natural de comunicação; e, segundo, porque em muitas cidades, as entidades promoverão atividades durante toda a semana, de 13 a 20 de novembro, e em outras durante todo o mês. "Não vamos ficar disputando o metro quadrado na Avenida Paulista, com pessoas que se acham donas do Movimento Negro, mas que na prática, agem como verdadeiros comissários dos partidos a que pertencem", afirmou o ativista João Bosco Coelho, do Movimento Brasil Afirmativo. Bosco fez um apelo às entidades e ativistas negros e anti-racistas para que ajudem a fazer a Parada Negra nas suas próprias cidades. "Convide as entidades co-irmãs. Entre em contato com a Prefeitura da sua cidade e realize sua manifestação. Mostre a realidade e cobre soluções para suas demandas", acrescentou. O tema deste ano, segundo Bosco, será "Com racismo, o Brasil não anda. Por um Brasil afirmativo, sem racismo e com oportunidades iguais para todos".

Barueri, Itapecerica e Cubatão, na região metropolitana de São Paulo - pelo menos em duas cidades -, já confirmaram atividades que integrarão a Parada Negra. Em Barueri, o jornalista Gerson Pedro, da Ação Negra de Integração e Desenvolvimento (ANID), disse que estão programadas várias atividades, entre as quais palestras e oficinas que culminarão com a entrega do Troféu ANID, homenagem tradicional prestada pela entidade a personalidades negras que tiveram destaque em suas áreas de atuação. "Este ano não vamos para a Paulista, porque não aceitamos disputar espaço com quem quer nos dividir", afirmou. Também em Itapecerica da Serra o Conselho Municipal do Negro (CONEGRO) está preparando uma extensa programação para celebrar o Dia Nacional da Consciência, segundo Denis Rodrigues e Kátia Trindade, dirigentes da entidade.Na Baixada Santista, em Cubatão, haverá atividade durante todo o dia 20 na principal avenida da cidade - a Nove de Abril - e, à noite, um ato contra o racismo. Cubatão é a cidade com maioria de população negra mais importante do Estado de São Paulo.

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