Nego Drama

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

"Racismo Disfarçado de Piada: O Caso de Intolerância na UFPel"

 Nos últimos dias, um novo caso de racismo estrutural foi exposto em Pelotas, desta vez dentro da própria Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Um motorista terceirizado, que presta serviços para uma instituição, foi vítima de uma situação vergonhosa de racismo e intolerância religiosa, perpetrada por um(a) aluno(a) enquanto exercia seu trabalho. E, como sempre, esse episódio não é um ato isolado, mas um reflexo das mazelas que ainda infectam a nossa sociedade.





A denúncia, feita pela enteada da vítima, trouxe à tona um vídeo em que o motorista é ridicularizado por escutar "música de preto", apenas por ser negro. Sim, você está certo. A justificativa para o ataque racista foi que ele, um homem negro, estava ouvindo músicas que representam a sua cultura, a sua identidade, e, claro, a sua resistência histórica. E a resposta para isso? Uma mensagem cheia de estereótipos, discriminação e um ultraje à própria dignidade humana.

O conteúdo da mensagem é de uma violência absurda, repleta de emojis que, ao invés de respeito, carregam desprezo e uma visão distorcida da realidade. A frase “O preto só sabe rir e dar gargalhada” revela, sem pudor, o quanto o racismo ainda está presente no cotidiano de nossa cidade, inclusive dentro das universidades, instituições que deveriam ser espaços de reflexão e inclusão.



Este caso não é isolado e traz à tona um ponto crucial: até onde as universidades, instituições de ensino superior, estão realmente comprometidas com a luta contra o racismo e com a promoção de um ambiente verdadeiramente inclusivo? Será que as universidades não estão apenas repassando declarações vazias, como a nota da UFPel, que se limita a "repudiar o caso" e afirmar que "estão tomando medidas cabíveis"?

O que falta é mais do que notas e desculpas. O que falta é uma ação concreta. A UFPel deve assumir sua responsabilidade e aprofundar no debate sobre racismo estrutural, criar espaços de diálogo genuínos e reparações que realmente transformem essa realidade. É preciso que uma universidade, como instituição pública, adote medidas que não sejam apenas reativas, mas educativas e preventivas. Que se implementem, de maneira eficaz, políticas de conscientização e combate ao racismo no ambiente acadêmico.

Esse episódio revela um problema muito mais profundo que precisa ser encarado de frente: a invisibilidade e a criminalização da cultura negra ainda estão em cada esquina, dentro de cada sala de aula e até nos corredores das universidades. Não se trata apenas de uma ação isolada de um aluno(a) racista, mas de um sistema que naturaliza a discriminação e marginaliza as culturas negras em todos os espaços sociais.

Portanto, a verdadeira questão aqui é: será que a UFPel e outras instituições estão realmente dispostas a compensar suas práticas, ou se conformarão com mais um caso de racismo escancarado que se limita ao esquecimento? É hora de questionarmos a efetividade das ações de combate ao racismo e exigirmos que o debate não se resuma a uma simples nota de repúdio, mas que se transforme em práticas e mudanças substanciais.

A luta contra o racismo é de todos nós. Não podemos nos calar. A resposta da UFPel deve ser mais do que apenas palavras; ela precisa ser uma ação concreta. Como sociedade, não podemos permitir que o racismo continue sendo tratado como uma piada.

#RacismoNãoTemPiada #MovimentoNegroPelotas #UFPel #RacismoEstrutural #ÉHoraDeAgir

domingo, 2 de fevereiro de 2025

O Encontro de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes no Balneário dos Prazeres: Fé, Resistência e Ancestralidade

 No Balneário dos Prazeres, mais conhecido como Barro Duro, em Pelotas, acontece um dos momentos mais simbólicos de respeito e reverência entre diferentes tradições religiosas: o encontro das santas Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes. Esse evento não é apenas uma celebração, mas um reflexo vivo da história, da resistência e da fé de um povo que, por séculos, encontrou na espiritualidade um caminho para sobreviver e manter suas raízes vivas.



Pelotas carrega em suas ruas, praças e margens do canal São Gonçalo as marcas de um passado profundamente ligado à escravidão. As charqueadas foram o centro da economia da cidade, movidas pelo trabalho forçado de milhares de africanos escravizados, que ali sofreram sob condições desumanas. Separados de sua terra natal, de seus familiares e de suas culturas, muitos encontraram na religião um meio de manter-se espiritualmente conectados ao continente africano. O Batuque, a Umbanda e o Candomblé não eram apenas expressões de fé, mas também atos de resistência e formas de organização social.


O sincretismo entre Iemanjá, a grande mãe das águas, e Nossa Senhora dos Navegantes, protetora dos pescadores e marinheiros, carrega consigo essa história. Para os negros escravizados, associar os orixás aos santos católicos era uma estratégia para manter seus cultos e, ao mesmo tempo, evitar perseguições. Esse encontro, celebrado todos os anos no Barro Duro, é um reflexo da fusão dessas tradições e da resiliência de um povo que nunca deixou sua fé ser apagada.

Mas qual é o verdadeiro significado desse momento nos dias de hoje?

Para muitos, o ato de levar flores ao mar e cantar para Iemanjá é um gesto de devoção e gratidão. Para outros, é uma reafirmação de identidade, um resgate ancestral e um lembrete de que a espiritualidade afro-brasileira é legítima e merece respeito. A intolerância religiosa ainda é uma dura realidade no Brasil, e manifestações como essa são fundamentais para reafirmar o direito à liberdade de culto.

Além disso, o encontro das santas no Balneário dos Prazeres é um convite à reflexão sobre a importância do respeito entre as religiões. Em um país de grande diversidade cultural e religiosa, é essencial que diferentes crenças possam coexistir sem preconceitos. O respeito à fé do outro fortalece não apenas a espiritualidade individual, mas também os laços comunitários e a luta por uma sociedade mais justa.

O que significa, então, essa celebração para a população negra de Pelotas?

Significa lembrar-se dos ancestrais que, apesar da dor da escravidão, mantiveram suas tradições vivas. Significa ocupar os espaços públicos e reafirmar que a fé afro-brasileira é parte fundamental da identidade cultural do país. Significa também celebrar a continuidade, pois cada oferenda, cada oração e cada toque de tambor ecoa séculos de história e resistência.

O encontro de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes no Barro Duro é mais do que uma festa religiosa. É um símbolo de luta, pertencimento e amor. Que as águas de ambas as santas sigam abençoando seus devotos e nos ensinem, ano após ano, que o respeito e a diversidade são caminhos essenciais para um futuro mais harmonioso.

Axé e bênçãos a todos que reverenciam as águas e a força de suas mães divinas! 🌊🙏🏾