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domingo, 2 de fevereiro de 2025

O Encontro de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes no Balneário dos Prazeres: Fé, Resistência e Ancestralidade

 No Balneário dos Prazeres, mais conhecido como Barro Duro, em Pelotas, acontece um dos momentos mais simbólicos de respeito e reverência entre diferentes tradições religiosas: o encontro das santas Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes. Esse evento não é apenas uma celebração, mas um reflexo vivo da história, da resistência e da fé de um povo que, por séculos, encontrou na espiritualidade um caminho para sobreviver e manter suas raízes vivas.



Pelotas carrega em suas ruas, praças e margens do canal São Gonçalo as marcas de um passado profundamente ligado à escravidão. As charqueadas foram o centro da economia da cidade, movidas pelo trabalho forçado de milhares de africanos escravizados, que ali sofreram sob condições desumanas. Separados de sua terra natal, de seus familiares e de suas culturas, muitos encontraram na religião um meio de manter-se espiritualmente conectados ao continente africano. O Batuque, a Umbanda e o Candomblé não eram apenas expressões de fé, mas também atos de resistência e formas de organização social.


O sincretismo entre Iemanjá, a grande mãe das águas, e Nossa Senhora dos Navegantes, protetora dos pescadores e marinheiros, carrega consigo essa história. Para os negros escravizados, associar os orixás aos santos católicos era uma estratégia para manter seus cultos e, ao mesmo tempo, evitar perseguições. Esse encontro, celebrado todos os anos no Barro Duro, é um reflexo da fusão dessas tradições e da resiliência de um povo que nunca deixou sua fé ser apagada.

Mas qual é o verdadeiro significado desse momento nos dias de hoje?

Para muitos, o ato de levar flores ao mar e cantar para Iemanjá é um gesto de devoção e gratidão. Para outros, é uma reafirmação de identidade, um resgate ancestral e um lembrete de que a espiritualidade afro-brasileira é legítima e merece respeito. A intolerância religiosa ainda é uma dura realidade no Brasil, e manifestações como essa são fundamentais para reafirmar o direito à liberdade de culto.

Além disso, o encontro das santas no Balneário dos Prazeres é um convite à reflexão sobre a importância do respeito entre as religiões. Em um país de grande diversidade cultural e religiosa, é essencial que diferentes crenças possam coexistir sem preconceitos. O respeito à fé do outro fortalece não apenas a espiritualidade individual, mas também os laços comunitários e a luta por uma sociedade mais justa.

O que significa, então, essa celebração para a população negra de Pelotas?

Significa lembrar-se dos ancestrais que, apesar da dor da escravidão, mantiveram suas tradições vivas. Significa ocupar os espaços públicos e reafirmar que a fé afro-brasileira é parte fundamental da identidade cultural do país. Significa também celebrar a continuidade, pois cada oferenda, cada oração e cada toque de tambor ecoa séculos de história e resistência.

O encontro de Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes no Barro Duro é mais do que uma festa religiosa. É um símbolo de luta, pertencimento e amor. Que as águas de ambas as santas sigam abençoando seus devotos e nos ensinem, ano após ano, que o respeito e a diversidade são caminhos essenciais para um futuro mais harmonioso.

Axé e bênçãos a todos que reverenciam as águas e a força de suas mães divinas! 🌊🙏🏾

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